27 de novembro de 2008

A crise nas Forças Armadas e a necessidade da recuperação das Virtudes Militares


Na terça-feira, passou mais um aniversário sobre a tentativa frustrada do golpe comunista de 25 de Novembro de 1975, altura em que o país esteve à beira de uma guerra civil, facto que é confirmado e reconhecido por diversos e destacados membros da hierarquia das Forças Armadas, entre eles o ex-Presidente da República, General Ramalho Eanes, e também pela opinião pública portuguesa em geral.
Nessa altura, segundo palavras do General Pires Veloso em entrevista dada anteontem ao Diário de Notícias: “Assistia-se ao esboroar das Forças Armadas.”

Trinta e três anos passados sobre este acontecimento, o General Pires Veloso, oficial general na reforma, ao ser questionado na referida entrevista sobre se os militares estão a ser bem tratados, afirmou: “Não. Os militares andam a ser tratados com muito desprezo, como se não prestassem. Isto gera mal-estar. Estão a mexer num vespeiro”.

Esta afirmação não ocorre de forma isolada. Nos últimos meses têm-se sucedido declarações de destacados membros da Hierarquia Militar a revelar o profundo descontentamento que se vai sentindo nos quartéis. Com efeito, em finais de Outubro o General Loureiro dos Santos, ex-Chefe do Estado-Maior do Exército, denunciou situações de injustiça num artigo no jornal Público, e considerou que a actual situação pode conduzir a atitudes mais irreflectidas por parte de alguns militares mais jovens. O General Loureiro dos Santos chegou mesmo a comparar nesse ocasião, a situação que se vive actualmente no seio dos militares com a situação do Verão quente de 1975.

Em consonância com estas declarações, vieram igualmente a público declarações da Associação dos Oficiais das Forças Armadas a fazer eco desse descontentamento generalizado, nas quais se condenava o Governo por discriminar os militares.

Perante este conjunto de declarações, que a meu ver se revelaram extremamente oportunas, pelo facto de terem alertado a opinião pública em geral e o Governo em particular para uma situação que deve considerar-se, no mínimo, como delicada, a única atitude do Governo foi a de “fazer ouvidos de mercador”. Em minha opinião, uma tal posição parece ser reveladora de alguma insensatez, pois caso o actual clima de mal-estar generalizado venha a deteriorar-se e agravar-se ainda mais, será precisamente ao Governo que deverão ser atribuídas todas as responsabilidades.

Mas, perguntar-se-á, como é que se chegou a este clima de descontentamento generalizado dentro da Instituição Militar?

Para responder a essa pergunta seria necessário recuar no tempo e analisar detalhadamente todo o processo de evolução das Forças Armadas desde o 25 de Novembro de 1975 até à actualidade, facto que não cabe no espaço reduzido desta crónica.

No entanto, antes de terminar, quero aproveitar para deixar aqui um pequeno apontamento para reflexão, sobre aquilo que, a meu ver, parece ter sido o contexto que contribuiu para a situação que se vive actualmente no seio da Instituição Militar.

Com efeito, o processo de recuperação progressiva das Forças Armadas iniciado após a situação de descalabro e de desrespeito pelas hierarquias militares que se viveu nas suas fileiras até ao 25 de Novembro de 1975, terá eventualmente descurado alguns aspectos importantes e cruciais como sejam a recuperação das virtudes militares, da camaradagem, do espírito de corpo, da confiança nos chefes ou seja a recuperação espiritual da própria Instituição Militar.

A par disso assistiu-se também a uma utilização política da Instituição Militar por parte de sucessivos governos de orientação antimilitar, facto que é confirmado por alguns sectores dentro das Forças Armadas.

Será preciso inverter rapidamente esta tendência para que cesse o actual clima de descontentamento generalizado no seio das Forças Armadas, de modo a que a Instituição Militar no seu todo se sinta de novo motivada e recupere integralmente um verdadeiro espírito de serviço, pois é nela que recai o dever e a enorme responsabilidade de ser o garante dos valores inalienáveis que constituem a independência e a soberania nacionais.

13 de novembro de 2008

A erosão do princípio da Autoridade e a actual crise do Sistema de ensino em Portugal



Existe actualmente uma queixa generalizada por parte, quer de encarregados de educação quer de professores, de que o sistema de ensino oficial em Portugal está mau, que o grau de exigência a nível dos conteúdos de aprendizagem é cada vez menor e que vão aumentando as atitudes de falta de respeito dos alunos em relação aos professores na generalidade das escolas espalhadas pelo país. Tal situação parece não ter um fim à vista enquanto não houver a frontalidade, tanto por parte do Governo, como das famílias e da sociedade em geral, para analisarem e encararem com coragem aquilo que está na origem dos graves problemas existentes no sistema de ensino. A meu ver, a solução para este grave problema passa sobretudo por uma nova concepção do sistema de educação, devendo a mesma ser esvaziada de certos preconceitos ideológicos de forma a possibilitar um desenvolvimento cultural e social autêntico e benéfico para o País.

Com efeito, o desenvolvimento cultural e social de um país deve ser avaliado em grande medida pela qualidade do ensino que é ministrado desde a escola primária, nomeadamente nas escolas do ensino público oficial. Um sistema de ensino eficaz e correctamente estruturado constitui um dos pilares de uma sociedade harmoniosa e justa.

Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, a generalização do ensino a toda a população constituía um dos objectivos do novo regime então instaurado. Tal medida era em si mesma benéfica, pois permitiria com o decorrer do tempo fazer aumentar o grau de conhecimentos e o nível de instrução cultural das populações.

No entanto, a par da generalização do ensino gratuito a toda a população, foi-se instalando gradual e paulatinamente, sobretudo desde 1975, e em grande medida devido à acção perniciosa do Partido Comunista, um sistema de ensino baseado essencialmente na ideologia e na filosofia marxistas que visava minar e transformar a organização social instituída, tendo começado precisamente por operar uma transformação lenta, progressiva e radical em todos os agentes do sistema de educação. Tal transformação foi secundada de forma geral pelos partidos da esquerda.

A propagação das teorias marxistas acabou por influenciar não apenas os conteúdos programáticos de algumas disciplinas, e de forma muito particular a disciplina de História, facto que perdura até hoje, tendo também acabado por minar por completo o próprio princípio de autoridade e de respeito pela hierarquia que deveria existir nas escolas e no sistema de educação em geral. Desde então, e a pretexto de tomadas de posição baseadas no princípio da liberdade democrática, a qual deve pressupor sempre uma atitude responsável, foi-se assistindo gradualmente, na generalidade das escolas, à substituição desse mesmo princípio por uma atitude generalizada de libertinagem em tudo contrária ao princípio da liberdade exercida com responsabilidade. A autoridade dos professores começava então a ser posta em causa, situação que de certa forma vai perdurando até aos dias de hoje.

Nos últimos meses, os Portugueses têm assistido a uma autêntica “guerra civil” entre a Ministra da Educação e a grande maioria dos professores de todo o país, a pretexto do modelo de avaliação de desempenho que o Ministério da Educação está a tentar impor-lhes. Tal modelo de avaliação, segundo a ministra, visa aperfeiçoar o sistema de educação em geral, pôr termo a três décadas de laxismo no ensino e exigir mais responsabilidades aos docentes no exercício da sua profissão.

É curioso verificar que seja precisamente o Partido Socialista, ao qual deve atribuir-se parte da responsabilidade pelo actual laxismo existente no ensino em Portugal, que venha agora reclamar uma pretensa mudança no sistema de ensino a ser implementada em poucos meses.